Negócios

Em 1º ano de programa da ApexBrasil para mulheres, empreendedoras já comemoram resultados

Em 2023, a Agência criou o programa Mulheres e Negócios Internacionais, que já atendeu mais de mil empresárias na busca por mercados internacionais. Exportadoras de diversos setores celebram os resultados.

Desde o começo de 2023, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) tem buscado aproximar mais lideranças femininas às oportunidades comerciais em mercados estrangeiros. Em junho, foi lançado oficialmente o Programa Mulheres e Negócios Internacionais (MNI), que visa aumentar os atendimentos da Agência a empresas lideradas por mulheres. A meta é que elas representem pelo menos 50% dos atendimentos até 2026.

O empreendedorismo ainda é um caminho proporcionalmente menos trilhado pelas mulheres, e quando se fala em internacionalização, a participação feminina é ainda menor. Em 2022, apesar do recorde de mais de 10 milhões de donas de negócios no Brasil, esse volume ainda representava apenas um terço do total. Quando falamos de comércio exterior, o número é ainda menor: de acordo com um relatório preparado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), somente 14% das empresas exportadoras brasileiras pertencem em sua maior parte a mulheres.

O MNI foi criado com o intuito de alterar essa realidade, atuando em rede com outras instituições. O programa Elas Exportam, desenvolvido em parceria com o MDIC, por exemplo, foi o piloto na estruturação de atividades de mentoria para mulheres, em que empresárias iniciantes na internacionalização do seu negócio puderam se conectar com empresárias experientes do mesmo setor.

Além de ações oferecidas exclusivamente para mulheres, a Agência também tem incorporado a paridade de gênero em todas as suas atividades, com mecanismos que favorecem a maior participação de empresas lideradas por mulheres. Os processos seletivos para feiras, cursos e eventos, por exemplo, passaram a contar com uma pontuação extra para empresas com lideranças femininas. Só em 2023, foram mais de 30 eventos sob essa nova orientação. Como resultado, em menos de um ano, já foram mais de mil mulheres sensibilizadas pelo Programa.

Empresária leva para o mundo o design de móveis da Amazônia

A Alessandra Bezerra, CEO e fundadora da marca de móveis Ybyrá Biodesign da Amazônia, foi uma das impactadas pelo novo programa da Agência. Com a liderança feminina, a empresa logrou ser selecionada para participar do Exporta Mais Brasil, uma iniciativa da ApexBrasil que reúne empresários brasileiros com compradores internacionais para a realização de rodadas de negócios. “Logo no primeiro dia, nós fomos a primeira empresa a fechar negócio”, explica Alessandra, que comemorou durante o evento a primeira venda para um empresário alemão.

Até estar pronta para inaugurar as exportações, Alessandra, que gere a empresa junto com o marido, conta que passou por um intenso processo de capacitação e de amadurecimento do negócio. A trajetória da Ybyrá começou em 2020, durante na pandemia, quando o casal de amapaenses estava vivendo no Rio Grande do Sul, tocando uma empresa de marketing. Frente ao cenário adverso, decidiram apostar em um novo setor: perceberam a popularidade dos móveis de madeira na Serra Gaúcha e resolveram levar a ideia para o estado natal, que possui madeira de alta qualidade da floresta Amazônia, apesar de enfrentar os desafios da extração ilegal.

A decisão de voltar para a região Norte marcou o início da jornada da Ybyrá, que já nasceu com preocupação socioambiental. “Nós saímos [do Amapá] em busca de algo melhor, porque o nosso estado é muito pobre, pouco desenvolvido. Nós voltamos para melhorar a vida aqui. A gente ama os nossos recursos naturais, nós vivemos deles. Eu não posso abrir uma empresa que vai trabalhar com fabricação de móveis se eu não tiver esses alicerces muito bem firmados, que é a preservação do local onde eu vivo”, defende Alessandra.

Para tirar a empresa do papel, o casal participou do programa Inova Amazônia, do Sebrae, com o qual logo perceberam o potencial internacional do negócio. Com um produto de design inovador, produzido com insumos de qualidade e sustentáveis, havia forte apelo para consumidores estrangeiros. Por isso, logo buscaram o Programa de Qualificação para Exportação da ApexBrasil, o PEIEX, pelo qual passaram entre 2022 e 2023. “Foi a nossa primeira preparação para que pudéssemos alcançar o mercado internacional, que era um sonho nosso”, conta a empresária. Menos de um ano depois, a Ybyrá foi selecionada para a ação que resultou na primeira exportação para a Alemanha.

Alessandra se orgulha das conquistas e revela que quer ir muito mais longe e levar mais mulheres com ela. “Eu amo trabalhar com madeira. Eu tenho certeza de que outras mulheres se espelham nisso e com certeza vão buscar esse mercado. Aqui a maioria das mulheres estão na frente das empresas que vivem da floresta. Há muitas mulheres catadoras de semente, que trabalham com cipó, que estão à frente de grandes missões aqui dentro da Amazônia”, explica. “Hoje nós somos importantes para a nossa comunidade local, para que elas saibam que também podem buscar novos horizontes”, celebra.

Cachaçaria nordestina liderada por irmãs quer conquistar a Europa

A Cachaça Triumpho, gerida pelas irmãs Ana Carolina Macedo e Fabiana Macedo, é outra beneficiada pelo Programa Mulheres e Negócios Internacionais. A empresa, criada em 2002 pelo pai delas, visava enriquecer o contexto turístico de Triunfo, que fica no sertão pernambucano. Na medida em que o proprietário foi se tornando um conhecedor da bebida, prezando pela qualidade em todas as etapas de produção, a cachaça foi ganhando prêmios e se tornando conhecida. Com a morte do patriarca, as filhas assumiram o negócio da família, e além de manter o legado do pai, o objetivo delas é expandir internacionalmente a marca.

Fabiana conta que o primeiro passo nessa nova fase foi participar do Programa de Qualificação para Exportação da ApexBrasil, o PEIEX. Foi a partir dessa experiência que a empresa participou da primeira rodada de negócios com compradores internacionais, uma ação da Agência em parceria com o Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC). Durante o evento, o produto foi muito elogiado, mas foi apontado que o rótulo não combinava com a cachaça e que elas poderiam aprimorar a embalagem participando de outro programa da ApexBrasil, o Design Export.

Após passar pelo programa, o produto apresenta não apenas um novo rótulo, mas uma nova garrafa, produzida em argila e bagaço de cana, que remete à preocupação ambiental e com o uso de insumos orgânicos no produto. Como resultado, em 2023 a empresa não acumulou apenas medalhas pela qualidade da cachaça, mas também ganhou o prêmio Design for a Better World.

“A gente trabalha diariamente para expandir as nossas vendas e levar a cachaça para o restante do Brasil e para o mundo. E sempre com esse foco: o cuidado com as pessoas, com o meio ambiente, com todos ao nosso redor”, explica Fabiana. Com o intuito de internacionalizar a marca, as empresárias buscaram em 2023 mais um programa da ApexBrasil, dessa vez com foco no apoio às lideranças femininas: o Elas Exportam, em que contaram com a mentoria de uma empresária do setor de bebidas já experiente em exportações.

“Geralmente é um mercado mais masculino, a gente lida mais com homens. Uma coisa que acontece muito é que, quando você vai negociar, sempre parece que você não está no mesmo nível de competência, ao olhar do outro lado, masculino. Mas a gente vai quebrando isso, nunca foi nenhum impeditivo para mim”, garante Fabiana. Com apoio da mentora, contudo, o caminho tem sido facilitado. “Ela deu dicas valiosíssimas, especialmente na parte de pesquisa no mercado, de feiras. Foi uma parceria muito bacana”, adiciona.

Agora, o objetivo de Fabiana é colocar os conselhos em prática: a empresária fará uma viagem a Portugal e Espanha para trabalhar na pesquisa de mercado, e a empresa deve investir cada vez mais nos selos orgânicos e de sustentabilidade, que têm grande relevância para os consumidores europeus. “Para 2024, a minha missão dentro da Triumpho é realizar a exportação e torná-la sustentável”, assevera.

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Editora Chefe da Redação do JE.